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O que é a Doação de Óvulos
A doação ocorre quando uma mulher cede seu óvulo para que ele seja fecundado e transplantado para o útero de outra mulher. No Brasil, a lei estipula que essa doação seja anônima e a mãe dessa criança será considerada a mulher que o carregou no seu ventre, e não a que forneceu o óvulo. Caso a mulher que deu a luz à criança seja uma barriga solidária, o filho é considerado do beneficiado pelo procedimento.
Como é feita a Doação de Óvulos
Primeiro é preciso fazer a seleção da doadora. No Brasil não há um banco de óvulos congelados para doação. Apenas algumas clínicas mantêm os óvulos que possam ter restado de algum tratamento. Geralmente, as candidatas à doação de óvulos são jovens que se voluntariam a realizar o procedimento para ajudar alguém. Portanto, o processo de recrutamento é muito semelhante ao da doação de sangue. Ela faz a coleta dos óvulos ao mesmo tempo em que a receptora prepara seu útero para receber o embrião.
Para coletar esses gametas, a doadora precisa passar pelo processo de indução de ovulação, o mesmo usado no coito programado. São usados medicamentos administrados a partir do início do ciclo menstrual. Existem dois tipos, os administrados por via oral (citrato de clomifeno), ou através de injeções subcutâneas, (gonadotrofinas), que agem diretamente nos folículos do ovário, local onde crescem os óvulos.
Depois de cerca de 10 dias eles estarão prontos para serem aspirados. Isso será verificado através de ultrassonografias e exames de sangue. Depois, é feito o procedimento em si, quando uma agulha é aplicada dentro da vagina da mulher e, guiada pelo transdutor transvaginal, entra nos ovários e aspira o conteúdo líquido dos folículos, contendo os óvulos. Ela feita com um tipo de anestesia chamada sedação, que é mais leve.
A partir, o processo se torna semelhante à fertilização in vitro. Primeiro é preciso conferir se eles estão em boas condições para serem utilizados. No caso dos óvulos, eles são analisados sob o microscópio e os bons são disponibilizados para a fertilização. Já o sêmen passa por uma capacitação, selecionando-se os melhores e mais móveis.
No mesmo dia em que os óvulos da mulher são aspirados, o homem (seja doador ou parceiro da paciente em tratamento) faz a coleta dos espermatozoides, para que no mesmo dia eles sejam fecundados em laboratório. O procedimento pode reproduzir a situação no útero, colocando na mesma cultura um óvulo e alguns espermatozoides, ou eles podem ser injetados diretamente no óvulo, pelo método de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), dependendo da qualidade dos gametas masculinos.
Depois disso os embriões ficam um tempo em maturação e depois são colocados no útero da mulher. A quantidade de embriões depende da idade da mulher que vai gerar a criança: 2 para mulheres com menos de 35 anos, 3 para quem tem até 40 anos e 4 depois dessa idade. O processo é semelhante ao exame Papanicolau, é usado um bico de pato e depois um cateter bem fino é inserido na vagina da mulher. Um ultrassom orienta o médico sobre o local onde deve ser colocado o embrião, normalmente a 1 centímetro do fundo do útero. A sensação pode criar um ligeiro desconforto. Por fim, após 12 ou 14 dias, é feito o exame para detectar se houve sucesso no método.
Quem pode ou não doar
O ideal é que a doação seja feita por mulheres com menos de 35 anos, pois seus óvulos são mais novos e apresentam menores chances de terem problemas na estrutura genética causados por uma divisão celular ruim. É importante também que a doadora não tenha nenhuma doença genética hereditária. Além disso, ela também não deve ter nenhum problema de saúde que possa ser agravados pela estimulação ovariana, como cânceres dependentes de hormônio.
Muitas vezes essa opção é oferecida para mulheres que já estão em tratamento de reprodução assistida com seus próprios óvulos, mas de repente não têm mais como pagar o tratamento. Em troca, o casal ou a mulher que vai receber a doação paga metade do tratamento da doadora. Essa é a chamada doação compartilhada.
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Quem precisa receber
Mulheres que querem engravidar mais tem mais de 40 anos ou que já entraram na menopausa, e, portanto, não produzem mais óvulos. Mulheres que já vivenciaram múltiplas falhas de tratamento ou abortos, quadros de falência ovariana prematura, ou mulheres que tenham alterações genéticas, que sabidamente são de herança vinculada ao óvulo. Algumas pacientes também podem não atender ao estímulo do medicamento, precisando também da ovodoação.
Casais homoafetivos formados por homens também costumam receber um óvulo doado, que será fecundado com o sêmen de um deles e gerado no útero de outra doadora, também chamada de "barriga de aluguel".
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Quais os riscos da Doação de Óvulos
Para a doadora, como há a estimulação dos ovários com medicamentos, pode ocorrer a Síndrome da Hiperestimulação do Ovário (SHO). Nela há uma maior produção do hormônio estradiol, que pode acarretar em trombose depois que a mulher engravida e aumentar o inchaço do corpo.
Para a receptora, os riscos são os mesmos de uma fertilização in vitro. Como o embrião é fecundado fora do útero e depois transferido de volta, existe uma pequena chance de que ele se desenvolva fora do útero, a chamada gravidez ectópica, que pode colocar a vida da mulher em risco. Para reduzir as chances desse tipo de gestação, o embrião normalmente é colocado a 1 centímetro do fundo do útero.
Como mais de um embrião é transferido, há um risco de gravidez gemelar que varia de 25 a 30% em mulheres abaixo de 35 anos. Esse tipo de gestação é considerada de risco pois normalmente acarreta em parto prematuro, perigosos para a mãe e para o feto.
Preparação para a Doação de Óvulos
O mais difícil na doação de óvulos é a aceitação de que se vai gerar um filho vindo do gameta de outra mulher. É comum que algumas mulheres se culpem por terem adiado a gestação devido às suas carreiras, e depois não poderem mais usar seus próprios óvulos. Normalmente é indicado um acompanhamento psicológico e até mesmo psiquiátrico para o casal.
É comum que as mulheres ou os casais demorem um tempo para tomar uma decisão sobre o tema, muitas vezes dias, semanas ou mesmo meses. O fato de a mulher, mesmo não sendo a fonte do óvulo, poderá curtir a gestação toda, ajuda mais a aceitação desse tipo de método. Normalmente o médico explica como funciona todo o tratamento, que a criança, de acordo com a lei brasileira, sempre será considerado como filho da paciente que vai carrega-lo no seu útero. É por isso que a doadora sempre permanecerá anônima.
Além disso, o código genético difere menos de 1% entre uma pessoa e outra, o que não torna grande diferença quando você usa o óvulo ou espermatozoide de outra pessoa. É possível também escolher o perfil da doadora, para que tenha características físicas, como cor dos olhos, cabelos e pele.
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Cuidados especiais
Tanto para a doadora quanto para a receptora, é necessário levar uma vida saudável. Evitar fumar ou beber, alimentar-se a cada 3 horas, ingerir muito líquido e ter boas horas de sono, são todas medidas essenciais. Para se evitar complicações, como a dor, a paciente deve evitar atividades físicas, principalmente as de alto impacto.
Onde encontrar
Clínicas e hospitais com centros de reprodução humana normalmente oferecem esse serviço. Além disso, ele também pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde e em hospitais universitários.
Fontes consultadas
Ginecologista especializada em reprodução humana Thaís Domingues (CRM SP 104.252).
Ginecologista especialista em reprodução humana Gustavo Kröger (CRM SP 124.958).
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