Nutricionista e Mestre em Ciências pela UNIFESP. Experiência acadêmica em pesquisa científica. Atua como professora conv...
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Você já deve ter ouvido falar que o intestino é o nosso segundo cérebro, certo? Não é para menos: o órgão desempenha papéis que vão muito além da digestão, da absorção e do transporte de nutrientes. A literatura científica já mostrou que ele tem influência em vários setores, como sono, comportamento, saúde mental e prevenção de doenças - incluindo o câncer.
É por isso que manter um intestino saudável, funcionando bem e com a microbiota (bactérias) em equilíbrio, é fundamental para a saúde. Essa importância é ainda maior para as mulheres. Isso porque a microbiota intestinal feminina pode interferir no metabolismo de estrogênio, hormônio que controla a ovulação durante o período reprodutivo.
Alterações nesse metabolismo podem levar à instabilidade da produção de uma enzima chamada glicoquinase, que, consequentemente, pode aumentar o nível de estrogênio no organismo da mulher. Tudo isso eleva o risco de doenças como endometriose, câncer de colo de útero, de ovário e de mama. É sobre esse último e a sua relação com a saúde intestinal que vamos falar mais a seguir.
Câncer de mama e intestino: qual é a relação?
Para entender a relação entre intestino e câncer de mama, primeiro é preciso compreender o que é estroboloma. Esse é o nome dado para uma parte da microbiota intestinal que é responsável pela metabolização do estrogênio.
O estroboloma está ligado ao microbioma, que é todo o sistema de bactérias que vivem no intestino e a forma que elas atuam sobre nosso organismo. “A microbiota intestinal interfere diretamente no estroboloma e isso se caracteriza como eixo estroboloma-microbioma”, explica o biólogo Bruno Zylbergeld, especialista em microbiologia clínica.
Bruno participou do Congresso Brasileiro de Nutrologia 2023, promovido pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) no final de setembro, em São Paulo, apresentando um painel sobre o tema. Na apresentação, que o MinhaVida acompanhou, ele explicou como o desequilíbrio no eixo estroboloma-microbioma pode afetar a saúde da mulher.
Quando está em pleno funcionamento e harmonia, esse eixo pode trazer diversos benefícios para a saúde, principalmente para o bem-estar da mulher. “Melhora do humor, vitalidade, perda de gordura, ganho de massa muscular, melhor disposição e qualidade do sono. Esses são os benefícios obtidos quando o eixo estroboloma-microbioma está funcionando corretamente, porque há equilíbrio hormonal”, explica Bruno.
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O problema surge quando a microbiota intestinal da mulher não está saudável. Isso ocorre devido a maus hábitos alimentares (dieta rica em proteínas e pouco carboidrato e alto consumo de ultraprocessados), uso excessivo de antibióticos e por doenças crônicas, como obesidade e diabetes, por exemplo.
“Esse desequilíbrio pode aumentar a recaptação de estrógeno [ao invés de ele ser expelido, ele permanece no intestino], aumentando o nível do hormônio no organismo da mulher”, completa o biólogo.
O excesso de estrógeno está relacionado a diversos problemas de saúde, desde os menos graves, como o aumento de gordura localizada, intensificação dos sintomas da tensão pré-menstrual (TPM) e variações de humor, até os mais graves. É o caso do câncer de mama.
“O microbioma tem importante função de defesa do organismo, portanto, qualquer dano causado à sua integridade pode aumentar o risco de desenvolvimento de doenças”, complementa Priscila Gontijo Corrêa, nutricionista e coordenadora de conteúdo científico da Puravida. “Distúrbios no microbioma intestinal foram associados e observados em vários tipos de câncer. Em mulheres, a disbiose intestinal afeta o câncer de mama, colo de útero e ovário”, afirma.
Melhorar a microbiota intestinal pode ajudar no tratamento
A boa notícia é que melhorar a microbiota intestinal e reequilibrar o eixo estroboloma-microbioma pode trazer benefícios para mulheres que já foram diagnosticadas com câncer de mama. Da mesma forma como o desequilíbrio na microbiota intestinal pode aumentar o risco do tumor, a harmonia e a saudabilidade desse sistema pode ajudar na regressão da doença.
“Já existem evidências de que, quando melhoramos a microbiota intestinal, diminuímos a progressão do tumor, melhoramos o efeito da quimioterapia ou imunoterapia e reduzimos a receptação de estrogênio, o que também melhora o tratamento do câncer de mama”, afirma Bruno.
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A nutricionista Priscila concorda e complementa: “Como 80% dos casos de câncer de mama são positivos para receptores de estrogênio, a desconjugação desse hormônio pelo microbioma intestinal é relevante”, afirma. “Dessa forma, a recuperação e a manutenção da saudabilidade de microbiota intestinal são fatores importantes para prevenir o desenvolvimento e a piora do câncer de mama”, diz.
Como melhorar a saúde intestinal e prevenir câncer de mama?
Mas, afinal, como melhorar a microbiota intestinal e reequilibrar o eixo estroboloma-microbioma? As respostas já são velhas conhecidas: uma alimentação equilibrada e saudável e a prática de exercícios físicos.
“A dieta precisa ser bem equilibrada em todos os macronutrientes. Uma alimentação rica em proteína animal, comum em dietas restritivas, é um risco, pois está relacionado ao aumento de bactérias que produzem a enzima glicoquinase, o que aumenta a recaptação de estrógeno”, exemplifica o biólogo Bruno.
Já a prática de atividade física também influencia no bom funcionamento do intestino, pois ajuda na motilidade intestinal, o movimento que o intestino faz para eliminar as fezes. Além disso, o exercício físico traz benefícios para a saúde mental. “Ter uma mente sã é um fator extremamente importante e que também melhora a microbiota e a qualidade de vida”, finaliza.