Gláucia Vidal é Psicóloga Clínica com especialização na área de Psico-Oncologia. Psico-Oncologia é a área de interface e...
iAs pacientes no período pré-operatório para a realização da mastectomia sofrem graus variados de estresse psicológico podendo desenvolver ansiedade e depressão. A ansiedade gerada neste período está diretamente relacionada ao ambiente não familiar, à perda de controle da situação, ao medo da dor pós-operatório e da morte.
Esta ansiedade pode desenvolver diversas reações psicossomáticas desfavoráveis, como o aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial, sendo que, na maioria das vezes, estas alterações orgânicas fazem com que, as cirurgias sejam adiadas, aumentando assim o tempo de internação da paciente, podendo comprometer a qualidade de vida da paciente e sua família.
Outro agravante é a depressão que pode aparecer no início da doença ou surgir após a cirurgia e outros tratamentos. Tendo que enfrentar a doença, deprime-se diante de tantas mudanças e novas readaptações que serão estabelecidas pelo tratamento.
Esta depressão na maioria das vezes tende a aumentar quando a paciente necessita de internação hospitalar. Isso é motivo de grande apreensão e sofrimento, pois exige um afastamento de tudo aquilo que lhe é familiar e conhecido, que na fantasia da paciente trará vivências de isolamento, abandono e rompimento de laços afetivos, sociais e profissionais.
A paciente tem dificuldade de se reconhecer nessa fase, pois estando apreensiva com sua condição, muitas vezes sentindo dores e mal-estares, teme por sua vida ou por seqüelas que objetiva ou subjetivamente possam ocorrer. A paciente se vê limitada em seus recursos para o controle dessa situação, privando-se de seu poder anterior de decisão e afastada de sua possibilidade de ação.
São compreensíveis os quadros de angústias, tão freqüentes ante as cirurgias de mama e a reação depressiva pós-operatório. As mulheres, no momento em que adoecem, ficam extremamente mobilizadas, porque tudo o que acreditam já não é tão certo assim. As pacientes se vêem dependentes dos outros para o tratamento e com muita necessidade de apoio. Percebem-se inseguras e frágeis, vindo à tona o que sempre procuraram esconder, quebrando assim a fantasia de serem auto-suficientes e inatingíveis.
Mesmo sabendo da dificuldade e angústia enfrentada pelos familiares das pacientes é importante acompanhar o seu sofrimento, compartilhar com elas a sua dor e principalmente, aceitá-las frágeis e assustadas, sendo comum o fato dos familiares estarem sensibilizados pela possível ameaça de perda.
No período pré-operatório é importante a família ajudar a paciente a encarar a situação conscientemente, objetivamente, podendo sobre a doença falar, discutir, refletir, aceitando-a ou superando-a conforme suas características e os recursos à disposição da família e da paciente. Quando isso não é possível, seja porque o problema não é consciente, seja porque não está podendo ser pensado ou falado, seja porque faltam recursos disponíveis, a tendência é a paciente lançar mão de outras formas de enfrentamento como: fantasiar, racionalizar, negar, deprimir-se, agredir, culpar ou culpar-se, isolar-se, arriscar-se, beber, fumar, trabalhar excessivamente etc.
Em relação à equipe de saúde, além da importância da maneira como se conta o diagnóstico, é necessário transmitir total segurança para a paciente em relação aos tratamentos, e principalmente em relação à cirurgia. É importante assegurá-la de que ela não estará só. Isto torna mais fácil o manejo do seu tratamento. O profissional precisa passar a certeza de que ela receberá os melhores tratamentos existentes e de que as situações temidas, serão minimizadas ao máximo.