Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Uma pesquisa feita pelo Centro Médico da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostra que pessoas submetidas à cirurgia bariátrica têm maior risco de se tornarem dependentes de álcool. A cirurgia reduz o tamanho do estômago e direciona os alimentos para uma área do intestino que absorve menos nutrientes e calorias. Pesquisas anteriores já haviam mostrado que quem faz essa cirurgia passa a metabolizar o álcool de forma diferente, sentindo-se alterado mais rapidamente e levando mais tempo para retornar à sobriedade.
O estudo, publicado no Journal of the American Medical Association, envolveu cerca de dois mil pacientes que fariam uma cirurgia bariátrica. Eles foram acompanhados antes do procedimento e dois anos após a operação. Todos preencheram uma pesquisa desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para identificar sintomas de abuso de álcool.
Os pesquisadores descobriram que 7,6% dos pacientes tinham problemas com álcool antes da cirurgia. Dois anos após a operação, a taxa de alcoolismo subiu para 9,6%. Os pacientes relataram maior frequência de sintomas como necessidade de beber de manhã, perda de memória e sentimento de culpa. O consumo de álcool também aumentou entre os pacientes no segundo ano após a operação, comparado com o pré-operatório e com o primeiro ano.
De acordo com os autores, esse é o primeiro estudo a mostrar que o aumento da sensibilidade ao álcool pode levar a um aumento no risco de dependência e abuso da bebida. Os especialistas afirmam que o fato de o álcool ser absorvido mais rapidamente pode torná-lo também mais viciante.
Tire suas dúvidas sobre a cirurgia bariátrica
Muito se ouve falar sobre a "milagrosa" cirurgia de redução de estômago. O método se mostra realmente eficaz para pessoas que sofrem de obesidade mórbida, chegando a perder em média 40% de peso, em um ano. No entanto, a operação é indicada e permitida apenas para pacientes com o Índice de Massa Corpórea (IMC) igual ou superior a 40. Caso a pessoa esteja com o IMC entre 35 e 40, a cirurgia só será realizada se outras doenças causadas pela obesidade estiverem colocando sua vida em risco, como por exemplo, a diabetes e a hipertensão.
Quando dieta e exercícios ainda são recomendados
O gastrocirurgião da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Carlos Haruo Arasaki, explica que se a pessoa está com um IMC abaixo de 40, ainda é compensador adotar outras formas de emagrecimento, como exercícios físicos, orientação nutricional, endocrinológica, e até mesmo, psicológica. No entanto, por não terem a exata noção dos riscos envolvidos na cirurgia bariátrica e de todas as restrições que vai enfrentar pelo resto da vida, alguns pacientes acreditam que reduzir o estômago é o método mais fácil para emagrecer. "Algumas pessoas inclusive engordam propositalmente para ter a permissão médica", diz.
Primeiros passos da cirurgia
O tratamento multidisciplinar nas etapas que antecedem e sucedem à operação é fundamental. "O paciente precisa ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar, formada por médico cirurgião, gastroenterologista, nutricionista ou nutrólogo, psicólogo e fisioterapeuta, dentre outros profissionais", explica o gastrocirurgião Carlos. O especialista explica que a equipe orienta o paciente para que ele se sinta parte do processo e preparado para todas as etapas do tratamento.
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Efeitos colaterais
A grande perda de peso, efeito da cirurgia bariátrica, ocasiona a perda da elasticidade da pele, fato que prejudica não apenas o aspecto estético, mas algumas funções básicas da vida. Os problemas dos pacientes começam com prejuízos à postura e ao equilíbrio, causados pelo excesso de pele. "Depois, podemos citar os problemas de integração social e de relacionamento sexual, além do incômodo causado pelas dermatites localizadas nas dobras de pele", diz Carlos Haruo. "Os pacientes também estão mais sujeitos a alterações como anemia, distúrbios metabólicos, depressão, alcoolismo e uso de drogas", completa.